Elizabeth Barrett Browning
Caros,
Há cerca de um século e meio, a
poeta romântica inglesa Elizabeth Barrett Browning (1806-1861)
escreveu uma coletânea de poemas que se tornou uma das mais
conhecidas da lírica amorosa em seu idioma. Trata-se de Sonnets from the
Portuguese, livro publicado em 1850 e dedicado ao marido dela, o também
poeta Robert Browning.
Escritora de talento,
Elizabeth desde cedo mostrou inclinação para a literatura. Consta que ela já
conhecia as peças de Shakespeare e outras obras clássicas antes dos 10 anos de
idade. Na adolescência, aprendeu grego e hebraico. Aos 20 anos, ela publicou seu
primeiro livro de poemas. Em 1833, saiu sua tradução para o inglês da peça
Prometeu Acorrentado, de Ésquilo.
Em 1844, ela edita uma coletânea chamada Poems. Esse volume lhe valeu a
aproximação com Robert Browning. Os dois se casaram e se estabeleceram em
Florença, na Itália.
No Brasil, Elizabeth foi traduzida por nomes de peso, entre os quais Manuel
Bandeira. O soneto ao lado está no livro Poemas Traduzidos, do autor de
"Vou-me embora pra Pasárgada". Os textos originais vêm do celebrado Sonnets
from the Portuguese.
É claro que esses amores românticos e "para toda a eternidade", cantados por
Elizabeth Barrett Browning soam completamente deslocados no mundo atual.
Mas não há como deixar de admirar a magistral escritora que um
dia pôs esses sonetos no papel.
Se você quiser ler o texto original completo dos Sonnets from the Portuguese
(44 sonetos), visite o site
EveryPoet.com.
Um abraço, e até a próxima.
Carlos Machado
•
E AS FRANCESAS?
Ao escrever sobre uma escritora inglesa, veio-me à cabeça uma pergunta que
sempre me fiz: por que não se conhece nenhuma poeta francesa?
Por que a terra de Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Mallarmé e Valéry não tem uma
só mulher no primeiro time de sua poesia? Explico: não quero dizer que não
existam poetas francesas. A pergunta é: por que não se conhece
amplamente nenhuma poeta francesa?
Se alguém tiver uma explicação, ou mesmo um bom palpite, conte-me, por favor.
|
Sonetos de amor
|
Elizabeth Barrett Browning |
|
SONETO XIV
Tradução: Manuel Bandeira
Ama-me por amor do amor somente
Não digas: «Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente
Minh'alma em comunhão constantemente
Com a sua.» Porque pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.
Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade
De chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.
SONNET XIV
If thou must love me, let it be for nought
Except for love's sake only. Do not say
«I love her for her smile... her look... her way
Of speaking gently,... for a trick of thought
That falls in well with mine, and certes brought
A sense of pleasant ease on such a day» —
For these things in themselves, Belovèd, may
Be changed, or change for thee, — and love, so
[ wrought,
May be unwrought so. Neither love me for
Thine own dear pity's wiping my cheeks dry, —
A creature might forget to weep, who bore
Thy comfort long, and lose thy love thereby!
But love me for love's sake, that evermore
Thou may'st love on, through love's eternity.
SONETO XXVIII
Tradução: Manuel Bandeira
As minhas cartas! Todas elas frio,
Mudo e morto papel! No entanto agora
Lendo-as, entre as mãos trêmulas o fio
da vida eis que retomo hora por hora.
Nesta queria ver-me — era no estio —
Como amiga a seu lado... Nesta implora
Vir e as mãos me tomar... Tão simples! Li-o
E chorei. Nesta diz quanto me adora.
Nesta confiou: sou teu, e empalidece
A tinta no papel, tanto o apertara
Ao meu peito que todo inda estremece!
Mas uma... Ó meu amor, o que me disse
Não digo. Que bem mal me aproveitara,
Se o que então me disseste eu repetisse...
SONNET XXVIII
My letters! all dead paper, mute and white!
And yet they seem alive and quivering
Against my tremulous hands which loose
[ the string
And let them drop down on my knee to-night.
This said, —
he wished to have me in his sight
Once, as a friend: this fixed a day in spring
To come and touch my hand... a simple thing,
Yet I wept for it! —
this... the paper's light...
Said, Dear I love thee; and I sank and quailed
As if God's future thundered on my past.
This said, I am thine —
and so its ink has paled
With lying at my heart that beat too fast.
And this... O Love, thy words have ill availed
If, what this said, I dared repeat at last!
|