Amigas e amigos,
O poeta sérvio-americano Charles Simic já apareceu aqui em duas outras
oportunidades. A primeira foi no boletim n. 161, em maio de 2006. A outra, mais recente,
se deu em novembro de 2014, na edição n. 322. Desta vez Charles Simic retorna numa
configuração diferente. Este boletim é uma reedição daquele primeiro, ampliada e reestruturada.
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Nascido em Belgrado, Iugoslávia, em 1938, o poeta, tradutor e ensaísta americano Charles Simic mudou-se para Paris aos 15 anos. Em 1954, com a mãe e um irmão, transferiu-se para os Estados Unidos a fim de se juntar ao pai, que já residia lá.
Seus primeiros poemas foram publicados em 1959, mas sua estreia em livro deu-se em 1967, com o volume What The Grass Says (O que diz a relva). Professor de inglês, poeta consagrado, Simic ganhou o prêmio Pulitzer de 1990 com o livro The World Doesn't End (O mundo não se acaba). Como tradutor, publicou várias coletâneas de poemas vertidos para o inglês de idiomas como francês, sérvio, croata, macedônio e esloveno.
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A infância vivida nos duros anos da Segunda Guerra Mundial representou uma experiência marcante para Simic e certamente influencia até hoje seu trabalho poético. “Em 6 de abril de 1941, uma bomba caiu sobre um edifício bem em frente a minha casa. Lembro que me tirou da cama. É minha primeira recordação”, conta ele numa entrevista.
Um traço que a crítica costuma apontar na poesia de Simic são as imagens surrealistas, com a recorrência de termos como árvores, deuses, demônios e escuridão. No entanto, não há em seus versos as invenções delirantes dos surrealistas clássicos. Seus textos procuram extrair o que pode haver de absurdo ou fantástico nas coisas comuns.
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Um exemplo disso é dado pelo poema “The White Room” (O Quarto Branco), transcrito ao lado. Nele, Simic busca o transcendente naquilo que é óbvio e está ao alcance da mão. Mas o poeta recusa a ideia de deuses metamorfoseados em objetos do dia a dia: grampos de cabelo, pentes, espelhos de mão. Isso certamente não ajuda a entender o mundo.
O poema “The White Room” pertence ao volume The Book of Gods and Devils, de 1990. Desse mesmo livro de deuses e demônios extraí o poema “In The Library” (Na biblioteca). Amante dos livros, o poeta vê neles deuses e anjos amontoados que parecem sussurrar coisas — somente para os íntimos.
Numa entrevista concedida em 1972, Simic declara: “A poesia é órfã do silêncio. As palavras nunca correspondem exatamente à experiência que está por trás delas”. É como se o silêncio fosse um mundo ou uma dimensão perdida que a poesia procura resgatar.
Embora seja hoje uma das vozes mais originais e influentes na poesia americana, Simic não é conhecido no Brasil. Aqui, ninguém nunca se interessou em publicar uma antologia com poemas dele. A única iniciativa nesse sentido de que tenho notícia veio dos poetas
Fabio Weintraub e
Ricardo Rizzo, que traduziram e publicaram 16 poemas de Simic na extinta revista Cacto n. 3 (primavera de 2003). Rizzo também deu a público três outras traduções na também extinta revista Jandira n. 2 (outono de 2005).
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Nos dois boletins anteriores sobre a poesia de Simic, eu mesmo traduzi todos os poemas apresentados. “O Quarto Branco” e “Na Biblioteca”, reprisados aqui do boletim n. 161, foram os primeiros textos de Simic que traduzi. Depois, continuei a prestar atenção ao seu trabalho e fiz novas tentativas de colocá-lo em português.
Neste boletim acrescento dois outros poemas, “Butcher Shop” (Açougue) e “Cabbage” (Repolho). Nos dois mantêm-se as características discutidas acima. O poeta parte de cenas triviais e delas desentranha situações no mínimo
excêntricas.
No poema “Açougue”, o narrador para, à noite, diante de um açougue fechado. Descreve o que vê
e acrescenta comentários muito pessoais. Em “Repolho”, a cena é doméstica. Marido e mulher estão na cozinha e o poema começa quando ela se prepara para cortar ao meio uma
cabeça da verdura-título. O marido-narrador a interrompe e daí salta para o socialista francês Charles Fourier (1772-1837),
passando por intimidades do casal.
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Conforme se vê, a poesia de Charles Simic é surrealista, ou “absurdista”, apenas naquilo que a realidade comum pode ter de estranho e absurdo.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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LANÇAMENTOS
Uma biografia, em São Paulo, e nova coletânea de poemas, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Ruy Guerra: Paixão Escancarada
• Vavy Pacheco Borges
Após um trabalho de
pesquisa de dez anos, a professora e historiadora Vavy Pacheco Borges (PUC, Unicamp) lança a biografia Ruy Guerra:
Paixão Escancarada, que conta a trajetória do cineasta moçambicano-brasileiro, diretor de filmes
como Os Cafajestes (1962), Os Fuzis (1964), Ópera do Malandro (1986) e Estorvo (2000). O biografado, Ruy
Guerra, tem agora 85 anos. O livro sai pela Editora Boitempo.
Quando:
Terça-feira, 08/08/2017,
às 18h30
Onde:
Livraria da Vila
Alameda Lorena, 1731 - Jardim Paulista
São Paulo, SP
Antologia Poetrix 5
• Goulart Gomes (org.)
O poeta baiano Goulart Gomes (org.) lança a obra coletiva
Antologia Poetrix 5. Poetrix, para quem não sabe, é um poemeto de três versos,
estrutura criada por Goulart Gomes e adotada por muitos poetas, como prova a
antologia. São dois lançamentos.
NO RIO DE JANEIRO
Quando:
Sexta-feira, 11/08/2017,
das 18h às 21h
Onde:
Livraria Cultura
Rua Senador Dantas, 45 - mezanino - Centro
Rio de Janeiro, RJ
EM SÃO PAULO
Quando:
Sábado, 12/08/2017,
das 17h30 às 20h30
Onde:
Espaço Scortecci
Rua Deputado Lacerda Franco, 96 - Pinheiros
São Paulo, SP
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