Amigas e amigos,
Nesta edição, o poesia.net apresenta o trabalho da poeta paulista Giselle Vianna (Campinas, 1981).
A autora não é estreante em poesia. Tem quatro livros publicados: Interpeles (Komedi, 2008);
Pau-Rodado (Patuá, 2016); Eclíptica: Poemas Venezianos (Benfazeja, 2019); e Intempestiva (Patuá, 2023).
Os textos destacados nesta página pertencem ao livro mais recente.
Escritos entre 2016 e 2023, os poemas de Intempestiva revelam uma poeta com pleno domínio dos recursos de expressão.
Não conheço as três obras anteriores de Giselle Vianna, então não sou capaz de imaginar seu processo evolutivo de escrita até
chegar ao livro que tenho em mãos.
•o•
Para este boletim, selecionei oito poemas de Intempestiva. Passemos à leitura. “Backup”, palavra em inglês, vinda do
jargão da informática, sugere aqui a ideia de “guardados íntimos”, “memórias”, “lembranças”. No texto, alguém recorda coisas
“lá nesse sertão de alma/ onde a comida é rala/ e a farinha engrossa/ o caldo/ lá onde o desígnio é rio/ intermitente”.
O próximo poema, também com título em inglês, “Dark Room”, é curtíssimo. Anúncio de sofrimento antecipado: “as almas mal
se tocam/ e os traumas já se roçam/ como dois ossos”. Ortopedia da alma. “Dessalga”, a operação de tirar o sal, é outro
poema de dor: “não sei em que mar/ vai desaguar/ a minha dor cansada”.
•o•
Em “Fim”, “não há nada/ de novo”: o clima de enfado e lamentação continua; “é mesma festa/ de ontem à noite/ hoje/
no acender das luzes”. Embora estejamos lendo poemas colhidos no livro de forma não sequencial, tem-se a impressão de
que todos eles fazem parte de um poema único, dominado por um clima de perda e penumbra.
No poema “Tempo do Desejo”, o ambiente se torna menos carregado, já que “a ânsia”, embora associada a uma “ideia vaga”,
aponta para a frente, para o desejo de viajar, “de virar vontade”. Então, quem sabe, daí venha a surgir algo mais alegre
e positivo.
•o•
Vem agora uma pequena mudança de tom. O poema “A tempo”, embora comece com a palavra “bruma”, caminha para a abertura de
um “clarão”: “algo/ relampeja/ no inverno de teus olhos”. Sol de inverno, mas sol. Contudo, há também um mal disfarçado perigo:
o vocábulo “inverno” é muito próximo de “inferno”...
Declaradamente inspirado no filme Amazing Grace (documentário sobre a gravação do disco homônimo da cantora Aretha
Franklin, em 1972), o poema “África” é, como está em seu último verso, uma “descoberta de nascentes”. A poeta tenta
mostrar a dança de timbres e sopros africanos, a voz de Gilberto Gil, “o som/ dos tantãs/ o samba e o soul”, tudo isso
combinado para gerar o fenômeno experimentado na voz de Aretha.
Vem, por fim, o poema “Fênix”. Nele a poeta exibe sua destreza ao trabalhar com palavras paroxítonas terminadas em x:
látex, tórax, clímax, córtex, vórtex. De quebra, outras com sons e grafias similares como extorquir, fórceps, bíceps,
drops e Quéops. Mais uma vez, uma operação violenta e sombria: “extorquir/ o clímax/ do amor/ a fórceps”.
•o•
Formada em Direito (USP) e doutora em Sociologia (Unicamp), Giselle Vianna empreendeu longa pesquisa em Mato
Grosso que resultou em sua tese “Ser e Não Ser Livre: a morfologia do trabalho escravo contemporâneo em Mato Grosso”.
Nesta entrevista, de 2020, ela conta suas
descobertas sobre esse tema.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
•o•
PÓS-LANÇAMENTO
Cais da memória
• Carlos Machado
Amigas e amigos: quero agradecer a todas e todos que compare-ceram, no sábado 22 de março, ao
lançamento de meu livro Cais da memória, na Livraria Patuscada, em São Paulo. Para quem não pôde ir lá, ou não mora
em São Paulo, o livro está disponível no site da
Editora Patuá.
•o•
Visite o poesia.net no Facebook e no Instagram.
•o•