Número 19

29/04/2018

«As palavras têm rosto: ou de silêncio ou de sangue.» (António Ramos Rosa) *
 

Edu Lobo e Chico Buarque
Carlos Drummond de Andrade



Caros,

Durante certo tempo, parte da crítica fixou-se na ideia de que Drummond deveria ter contribuído mais para pensar o fazer o poético. Ou seja, exigia-se dele maior contribuição no papel de crítico literário.

É verdade que o mestre itabirano sempre se dedicou mais a escrever poesia do que a deitar regras sobre como fazer isso. Mesmo assim, não é verdade que o autor de A Rosa do Povo tenha sido omisso nessa questão.

Muitos de seus poemas, como os famosos “Consideração do Poema” e “Procura da Poesia”, que abrem o livro A Rosa do Povo (1945), são reflexões sobre a arte poética. Há também numerosas dicas e toques em crônicas e entrevistas.

O parágrafo ao lado, por exemplo, é parte de uma entrevista concedida por ele ao Jornal do Brasil em 1987, seu último ano de vida. Nele, Drummond rebate a ideia de que ele seria o maior poeta do país.

Carlos Machado


 

 



 

Quem é o maior poeta do Brasil?

            
 


Para Drummond, esse escritor supremo simplesmente não existe

Drummond
Drummond: “Não há maiores poetas. Há poetas”


A maioria das pessoas que me consideram o maior poeta brasileiro não leu o que eu escrevi. Ouviram falar. Como acham que fulano de tal é o maior craque de futebol, o outro fulano é o maior compositor, o outro é o maior pintor, eu fiquei sendo o maior poeta por um julgamento que não é um julgamento literário: é uma opinião transmitida socialmente, mas sem nenhuma ponderação crítica. Nunca me julguei nem julgo, e digo mais: não sei qual é o maior poeta brasileiro de hoje nem de ontem. Para mim, não há maiores poetas. Há poetas. E cada poeta é diferente dos outros. Se não for diferente e se não transmitir uma forma particular e uma maneira especial de sentir, ver e manifestar poesia, ele não é poeta.

poesia.net
Outras Palavras

Carlos Machado, 2018

•  Carlos Drummond de Andrade
    Entrevista publicada no Jornal do Brasil
    em 1987
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* António Ramos Rosa
  in Círculo Aberto (1979)