Cicatrizes
Poemas. Balaio Editorial, São Paulo, 2023

Não seria de se estranhar se na capa deste livro viesse uma tarja: “Poemas baseados em fatos reais”, para que ficasse decretado
de partida o poder destes versos em nos expor nosso monstruoso pecado original, a escravidão. Mas com Francis Ponge, que se reivindica
“o poeta das coisas”, não o poeta do eu, aprendemos que a linguagem serve pra descrever, não para convencer ideologicamente ou provocar
eventuais sentimentalidades. Destes factuais novos Poemas negros, para citar a não pacificadora obra que o alagoano da serra da Barriga,
Jorge de Lima, escreveu em 1947, partimos para um embate. “Um verbo” já nos dá logo no primeiro poema o tom do jogo que se inicia,
o da linguagem provocativa a revolver com seu revólver não um incômodo, mas a ação de fustigar a nossa mais exposta chaga: racista.
A ancestralidade surge aos poucos, mas definitiva, anunciando o poder de destruição que a linguagem possui. Incrível como pode-se
imprimir com tanta elegância e ritmo um grito de guerra necessário e inquietante com “gases paralisantes/silêncios mais pesados que o ar”.
Percebemos a partir daí o impacto surdo e cortante do que já não se situa mais apenas na pele, esta cicatriz ulcerada encontra-se medularmente
posicionada: “onde o chumbo não penetra/onde o aço não vai.”, no poema que dá título à coletânea.”
na orelha do livro
Lançamento de Cicatrizes
A coletânea Cicatrizes foi lançada em:
- São Paulo
Data: sábado, 15/04/2023, das 16h às 19h
Local: Bar Canto Madalena
Rua Medeiros de Albuquerque, 471
Vila Madalena - São Paulo, SP
Opiniões críticas sobre Cicatrizes
Enfim, como nos atestam suas Cicatrizes, a alma de Carlos Machado tornou-se profunda como as dos velhos rios, os mesmos em que se banharam Elesbão do Carmo Dandará, Luísa Mahin e Langston Hughes. Convém que também nós, por gozo estético e dever de consciência histórica, mergulhemos com eles nessas águas profundas.
no prefácio do livro
Nesse volume de poemas dividido em cinco partes — “Vozes”, “Figuras”, “Beco da Esperança”,
“Batuque” e “Liberata” —, o autor Carlos Machado apresenta principalmente a temática da
negritude na sociedade atual; livre no papel, mas ainda na luta contra o racismo e o
preconceito.
