Tesoura cega
Poemas. Dobra Editorial, São Paulo, 2015
“Somos todos exilados”, condena o poeta escancarando a importância do
local de onde partimos para aquilo que somos. Partimos, largamos, mas
estamos sempre a visitar, de fato ou de memória, até o retorno final
(“Recebe, Terra, e abriga / este teu irmão / este teu igual / que de
ti andou apartado.”); ou até a chegada, agora não do homem, mas do
próprio universo, ao ponto de onde explodiu, transformado, no momento
da verdade, em “Ponto / monstruosamente final.”
Neste Tesoura cega, Carlos Machado nos leva a muitos desses portos, extremos de saída que teimam em ser de chegada. Dividiu o volume em seis partes, pois é poeta que, apesar de complexo, não teme por vezes dar a mão ao leitor/desfrutador, indicando chaves que ampliem sua compreensão: “Não falo, claro, do / olho oftálmico, mas de / outro olho mais dentro, / mais no centro da / tempestade”.
Lançamentos de Tesoura cega
A coletânea Tesoura cega foi lançada nas seguintes datas e locais:
- São Paulo
Data: 14 de junho de 2015
Local: Casa das Rosas, Avenida Paulista
- Salvador
Data: 22 de agosto de 2015
Local: Livraria Jhana - Shopping Boulevard 161
Sobre os lançamentos:
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Site KultMe
Poeta Carlos Machado lança Tesoura Cega. Leia 3 poemas inéditos e entrevista com o autor
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Germina, revista de literatura e
arte, edição agosto/2015
Carlos Machado: Tesoura cega
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Templo Cultural Delfos, 25/12/2015
Carlos Machado - o poeta
Opiniões críticas sobre Tesoura cega
"A poesia de Carlos Machado se insere no conjunto
de propostas da grande linha da poesia universal: o discurso do homem
no mundo e sua condição existencial".
Este seu último belo livro revela e (re)afirma um poeta de sintaxe singular, com seus
temas recorrentes (a memória, o cotidiano, a poesia, o tempo) tratados com linguagem
erudita sem pedantismo e um olhar de quem passeou longa e sabiamente por toda a história
da literatura. Carlos sabe dizer dos poetas e da poesia alheia como ninguém, mas sabe
muito mais elaborar sua própria obra que vai se firmando na centralidade do universo
que ele, com tanto empenho, comenta e divulga com tanta propriedade.
Carlos Machado passeia pelos temas eternos da poesia e também da sua própria
eternidade, alcançada quando identifica seu papel no mundo, a originalidade do olhar,
o entendimento com as coisas, o mar, o mundo, as gentes todas que nos habitam.
Leio Tesoura Cega e me alegro
de encontrar uma poesia séria, de excelente nível, seja quanto à
linguagem, seja na abordagem temática, seja pelo imponderável que anima
toda boa realização poemática. (...) Os poemas são todos de
qualidade, mas, como cada leitor tem direito a uma boa dose de
subjetividade na apreciação de poesia, exibo as minhas preferências, que
recaem sobre “Mapa”, “Xeque-Mate”, essa “Pedra” lav(r)ada “pelo surdo
gotejar dos séculos”, “Ponto Final”, “Moeda”, “Água e Sal”, “Cigana”,
“Fresta”, “Dedos”, “Poço”. A todo o conjunto as minhas boas-vindas.
As ilusões perdidas com o fim da modernidade nos confrontam com o
presente antilírico da caótica e desigual cena urbano-industrial. Daí
que, na seção “Antilira paulistana”, Carlos Machado abandone (ou ao
menos arrefeça) as metáforas para alcançar um realismo quase cru,
necessário ao desvelamento do exílio menor e da solidão maior que têm
lugar nas grandes metrópoles: “Estrangeiro em terra / de estrangeiros”
(“Prosa paulistana”, p. 27). Nem mesmo o “pombo coxo” que poderia
simbolizar o poeta, tal “O albatroz” de Charles Baudelaire, escapa desta
desmetaforização. Sem analogias ou correspondances, o “Pombo”
resta sendo apenas pombo. Assim como a índia, a negra, o palhaço, apenas
mais um fato entre outros incontáveis fatos sem pompa e sem sentido,
apenas mais uma das “aves empalhadas” (“Domingo”, p. 36) que o olhar
acurado do poeta surpreende no “desconcerto / desse balé de homens /
luzes e máquinas” (“Prosa paulistana”, p. 27).
em “Tesoura cega, de Carlos Machado: embates com o tempo predador”
Em Tesoura Cega (São Paulo: Dobra Editorial, 2015), Machado fala do exílio que estribilha
no peito de todo homem como uma canção insistente, do tempo e de sua filha mais rebelde, a memória,
que teima em não esquecer os fatos, inclusive os mais triviais da existência. Diferente de autores
mais expansivos, verborrágicos e até torrencialmente líricos (como, neste último caso, Pablo Neruda,
por exemplo), Carlos Machado sabe cantar “o si menor do silêncio”.
em “Versos afiados — Em Tesoura cega,
Machado corta fundo e vai além da superfície da poesia”
Sobre o Selo Donizete Galvão de Poesia
Tesoura Cega é um título do Selo Donizete Galvão de Poesia,
que reúne livros de poesia contemporânea identificados pela lamparina do
artista plástico Rogério Barbosa. Sobre a lamparina, disse-nos Donizete
Galvão (1955-2014) em seu antológico poema "Lições da Noite":
A brevidade de sua chama
e a baixa luz com que nos ilumina
lembram-nos de que a noite é nossa sina.
O Selo Donizete Galvão de Poesia é coordenado por Ana Tereza
Marques.