Número 19

Sexta-feira, 18 de setembro de 2002   

"A poesia é um jogo em que os poetas manejam cartas desconhecidas deles próprios." (C.D.A.)

  O constante diálogo

Carlos Drummond de Andrade
100 anos: 1902-2002


Drummond, 1935

Até o último momento, o poeta manteve uma afiada consciência social. Como ele mesmo disse, não fugiu para as ilhas, nem se deixou raptar por serafins:

"Eu lamento que haja pouco consumo de livros no Brasil. Mas aí é um problema muito mais grave. É o problema da deseducação, o problema da pobreza e -- portanto -- da falta de nutrição e da falta de saúde. Antes de um escritor se lamentar porque não é lido como são lidos os escritores americanos ou europeus, ele deve se lamentar de pertencer a um país em que há tanta miséria e injustiça social."

(Drummond, em sua última entrevista, poucos dias antes de sua morte.
In O Dossiê Drummond, de Geneton Moraes Neto, Ed. Globo, 1994)


 

Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amado
                   o semelhante
                   o diferente
                   o indiferente
                   o oposto
                   o adversário
                   o surdo-mudo
                   o possesso
                   o irracional
                   o vegetal
                   o mineral
                   o inominado

Diálogo consigo mesmo
            com a noite
            os astros
            os mortos
            as idéias
            o sonho
            o passado
            o mais que futuro

Escolhe teu diálogo
                           e
tua melhor palavra
                           ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.

Drummond: 100 anos
Carlos Machado, 2002

Carlos Drummond de Andrade
In Discurso de Primavera & Algumas Sombras
José Olympio, 1977
© Graña Drummond