Carlos Drummond de Andrade
100 anos: 1902-2002
Drummond: retrato
pintado por Portinari
Mais recordações da infância de Drummond. Neste "Herói", o
tom é galhofeiro, ironizando as glórias provincianas de Minas no início do
século 20. Segundo o jornal O Cometa Itabirano (setembro 2002, pág.
6), o "preclaro doutor Oliveira" de fato existiu: era Demerval Camilo de
Oliveira, que regressou de Paris nos anos 1910.
Eta nós!
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Entre as publicações da grande imprensa organizadas para comemorar o
centenário de Drummond, o site do jornal O Estado de S. Paulo merece
especial destaque. O
Estadão fez um excelente trabalho gráfico, abrindo uma área especial de
homenagem ao poeta. Há artigos novos, escritos para a ocasião, bibliografia,
filmografia e uma bem organizada galeria fotográfica.
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Regressa da Europa
Doutor Oliveira.
É dia de festa na cidade inteira.
Doutor Oliveira fez longa viagem.
Maior, mais brilhante ficou sua imagem.
Viajou de cavalo, de trem, de navio.
Foi bravo, foi forte, venceu desafio.
Falou língua estranja, que não percebemos.
Ergueu nosso nome a pontos extremos.
Conversou doutores de barbas sorbônicas
e viu catedrais, jóias arquitetônicas.
Papou iguarias jamais igualadas
nas jantas mais finas: consommés, saladas,
ovas de esturjão, e pratos mil flambantes,
que aqui falecemos sem conhecer antes.
Praticou mulheres das mais perigosas,
ofertou-lhes mimos, madrigais e rosas.
Nenhuma o prendeu entre grades de seda.
Volta o nosso amigo, livre, de alma leda.
Tudo há de contar-nos à luz do lampião,
para nosso pasmo e nossa ilustração.
Depressa, cavalos e arreios de prata,
que vai esperá-lo o povo bom, a nata.
Da cidade às portas, como triunfador,
eis chega Oliveira, preclaro doutor.
Ginetes aos centos correm a saudá-lo.
Foguetes, discursos e até o abalo
de tiros festivos no azul —
eta nós!
dados por Janjão e por Tatau Queirós.
Pois quem destes matos foi até Paris
honrou nossa terra, deu-lhe mais verniz.
E assim, ao apear, desembarca na História
Doutor Oliveira, para nossa glória.
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