Edgar Lee Masters
Caríssimos,
O poema "A Colina" ("The Hill"), de Edgar Lee Masters
(1868-1950), é um clássico da moderna poesia americana. Citado e traduzido no
mundo inteiro, ele representa o primeiro texto de um livro muito original e
curioso, The Spoon River Anthology, publicado em 1915.
Spoon River é uma cidade americana fictícia, no século 19, e sua "antologia"
contém, na verdade, relatos póstumos de 243 habitantes. Eles contam suas
histórias e, na condição de mortos, podem usar da mais crua sinceridade. A cada
personagem corresponde um poema, batizado com seu nome: "George Trimble",
"Dora Williams", "Paul McNeely". Para o leitor, é como se ele visitasse o
cemitério de Spoon River e lá ouvisse os relatos ou os lesse nas inscrições dos
túmulos.
Em certos casos, a leitura se transforma numa espécie de jogo, pois vários dos
defuntos-narradores (eles seguem o esquema do Brás Cubas!) mantiveram em vida
relações de negócio ou parentesco. Então, é fácil imaginar: todos os podres
aparecem. Para dar mais sabor à trama, em Spoon River, quase todos os finados
levaram para o túmulo um segredo associado a alguma violência ou indignidade
cometida ou sofrida durante a vida.
Advogado em Chicago, Edgar Lee Masters baseou-se livremente em pessoas de sua
própria família e em gente que ele conheceu durante a infância, nas cidades onde
morou. Afirma-se que alguns personagens podem ser identificados com velhos
moradores de Lewistown e Petersburg, no Estado de Illinois. The Spoon River
Anthology conquistou tal respeito que até foi comparado à obra-prima Leaves
of Grass (Folhas de Relva), de
Walt Whitman
(1819-1892), publicada em 1855.
A versão de "The Hill" que você vê ao lado foi escrita pelo poeta brasileiro
Jorge de Lima (1893-1953). Aliás, um poeta maiúsculo, que
— mais cedo ou mais tarde —
deverá aparecer aqui neste boletim.
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Se você quiser ler todos os poemas de The Spoon River Anthology no
original, visite o site
Bartleby.com.
Um abraço, e até a próxima.
Carlos Machado
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A colina
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Edgar Lee Masters |
Tradução: Jorge de Lima |
ONDE estão Elmer, Herman, Bert, Tom e Charley,
O irresoluto, o de braço forte, o palhaço,
[o ébrio, o guerreiro?
Todos, todos estão dormindo na colina.
Um morreu de febre,
Um lá se foi queimado numa mina,
O outro assassinaram-no num motim,
O quarto se extinguiu na prisão,
E o derradeiro caiu de uma ponte quando
[ trabalhava para a esposa e os filhos,
Todos, todos estão dormindo, dormindo,
[ dormindo na colina.
Onde estão Ella, Kate, Mag, Lizzie e Edith
A de bom coração, a de alma simples, a alegre,
[ a orgulhosa, a feliz?
Todas, todas dormindo na colina.
Ella morreu de parto vergonhoso,
Kate de amor contrariado,
Mag nas mãos de um bruto num bordel,
Lizzie ferida em seu orgulho à procura do que
[ quis seu coração;
E Edith depois de ter vivido nas distantes
[ Londres e Paris
Conduzida a seu pequeno domínio por Ella,
[ Kate e Mag,
Todas, todas estão dormindo, dormindo,
[ dormindo na colina.
Onde estão tio Isaac e tia Emily,
E o velho Towny Kincaid e Sevigne Houghton,
E o major Walker que conversara
Com os veneráveis homens da revolução?
Todos, todos estão dormindo na colina.
Trouxeram-lhes filhos mortos na guerra,
E filhas cuja vida tendo sido desfeita,
Os filhos sem pais choravam
Todos, todos estão dormindo, dormindo,
[ dormindo na colina.
Onde está o velho violinista Jones
Que brincou com a vida durante noventa anos,
Desafiando as geadas a peito descoberto,
Bebendo, fazendo arruaças, sem pensar na
[ esposa nem na família,
Nem em dinheiro, nem em amor, nem no céu?
Vede! Fala sobre os cardumes de peixes de
[ antigamente,
Sobre as corridas de cavalo em Clary's Grove,
[ outrora,
Sobre o que Abe Lincoln disse
Uma vez em Springfield.
THE HILL
Edgar Lee Masters
WHERE are Elmer, Herman, Bert, Tom and
[ Charley,
The weak of will, the strong of arm, the clown,
[ the boozer, the fighter?
All, all, are sleeping on the hill.
One passed in a fever,
One was burned in a mine,
One was killed in a brawl,
One died in a jail,
One fell from a bridge toiling for children and
[ wife —
All, all are sleeping, sleeping, sleeping on the
[ hill.
Where are Ella, Kate, Mag, Lizzie and Edith,
The tender heart, the simple soul, the loud, the
[ proud, the happy one? —
All, all, are sleeping on the hill.
One died in shameful child-birth,
One of a thwarted love,
One at the hands of a brute in a brothel,
One of a broken pride, in the search for heart’s
[ desire,
One after life in far-away London and Paris
Was brought to her little space by Ella and Kate
[ and Mag —
All, all are sleeping, sleeping, sleeping on the
[ hill.
Where are Uncle Isaac and Aunt Emily,
And old Towny Kincaid and Sevigne Houghton,
And Major Walker who had talked
With venerable men of the revolution? —
All, all, are sleeping on the hill.
They brought them dead sons from the war,
And daughters whom life had crushed,
And their children fatherless, crying —
All, all are sleeping, sleeping, sleeping on the
[ hill.
Where is Old Fiddler Jones
Who played with life all his ninety years,
Braving the sleet with bared breast,
Drinking, rioting, thinking neither of wife nor kin,
Nor gold, nor love, nor heaven?
Lo! he babbles of the fish-frys of long ago,
Of the horse-races of long ago at Clary’s Grove,
Of what Abe Lincoln said
One time at Springfield.
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