Emílio Moura
Caros,
“Como a noite descesse...", esse imenso poema do mineiro Emílio Moura
(1902-1971), dispensa apresentações. Basta ler e extasiar-se. Magnífico.
Sempre que leio esse poema, lembro o Rilke das Elegias de Duíno (1923).
Talvez eu esteja errado, mas o tcheco-alemão
Rainer Maria Rilke (1875-1926)
influenciou meio mundo de poetas. Vejam o verso de abertura das Elegias:
“Quem, se eu gritasse, me ouviria entre as hierarquias de anjos?" É o mesmo tom
grandioso, metafísico e encantatório. Se não houve a influência, pouco importa:
há algum tipo de parentesco.
Em sua poesia, Emílio Moura está sempre em busca da amada ausente. Uma amada
que, muitas vezes, se confunde com a própria poesia.
Um grande abraço,
Carlos Machado
Veja outros poemas de Emílio Moura no boletim
poesia.net 285.
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Como a noite descesse...
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Emílio Moura |
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Boticelli, O Nascimento de Vênus
(1484)
COMO A NOITE DESCESSE...
Como a noite descesse e eu me sentisse só, só e
[ desesperado diante dos horizontes
[ que se fechavam,
gritei alto, bem alto: ó doce e incorruptível
[ Aurora! e vi logo que só as estrelas
[ é que me entenderiam.
Era preciso esperar que o próprio passado
[ desaparecesse,
ou então voltar à infância.
Onde, entretanto, quem me dissesse
ao coração trêmulo:
— É por aqui!
Onde, entretanto, quem me dissesse
ao espírito cego:
— Renasceste: liberta-te!
Se eu estava só, só e desesperado,
por que gritar tão alto?
Por que não dizer baixinho, como quem reza:
— Ó doce e incorruptível Aurora...
se só as estrelas é que me entenderiam?
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