Affonso Manta
Caros amigos,
Affonso Manta nasceu em Salvador (BA), em 1939. Funcionário
público federal aposentado, mora em Poções, no sudoeste baiano. É um dos nomes
mais expressivos da geração de poetas que surge no começo da década de 1960, em
Salvador.
Lirismo confessional, anti-retórica e peculiar captação do prosaico e do lúdico
são as linhas de força de sua poesia, cuja obra, porém, ainda não teve a
divulgação merecida.
O texto ao lado, "O Realejo de Vinho", foi extraído da coletânea A Cidade
Mística e Outros Poemas (1980). Sobre este poema, observa o escritor baiano
Valdomiro Santana: "é extraordinário não só em sua realização de poema, mas
especialmente naquilo que o faz pulsar para além da leitura, porque vivido,
criado e escrito com agudeza de espírito e fina sensibilidade lírica. E isso é
cada vez mais raro de se ver. Um poema feliz em tudo, até no título, em que há
força e beleza”.
Além do volume citado, Affonso Manta publicou, entre outros, os títulos O
Colibri (1973); O Retrato de um Poeta (1983); e No Meio da Estrada
(1990). Manta é também autor de versos como: "Sinto no coração um labirinto/ De
formas e de cores e de luzes./ Sinto planetas dentro da alma, sinto/
Coisas me atingindo como obuses".
Um abraço,
Carlos Machado
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NOTA: O poeta Affonso Manta Alves Dias (1939-2003) faleceu em Poções, BA, na
mesma semana em que circulou este boletim. Fica, portanto, esta página como
homenagem ao poeta.
Veja mais poemas de Affonso Manta no boletim
poesia.net n. 297.
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Com o vento nos cabelos
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Affonso Manta |
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O REALEJO DE VINHO
Para quem me queira ouvir:
Sou um homem aos frangalhos.
Parte por culpa de tudo.
Parte por culpa de nada.
E digo mais ao casual
Ouvinte deste relato:
Não sendo herdeiro nem rico,
Não tenho crédito na praça.
Amo as japonas escuras
De mangas e tudo vasto.
E os colarinhos puídos
Uso desabotoados.
Ao pôr a minha gravata,
Fabrico um laço bem largo.
E acho triste andar com ela.
E mais tristes as gravatas.
Eu nunca faço questão
Que uma roupa seja cara.
Mas ampla e, sendo possível,
Com certo ar desesperado.
Eu prefiro aos bons charutos
Um velho e forte cigarro.
E odeio fumar cachimbo
Pois sou muito angustiado.
No mais, um vento me agita,
Interior e largado.
E me devasta os cabelos,
Rosto, sorriso e palavra.
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