Gilberto Mendonça Teles
Caros amigos,
Poeta, ensaísta e professor, Gilberto Mendonça Teles nasceu em Goiás, em 1931.
Publicou seu primeiro livro de poesia, Alvorada, em 1955, e entre suas
obras estão A Raiz da Fala (1972), Arte de Armar (1977) e
Álibis (2000). Em 1978 Mendonça Teles compilou seu trabalho até então no
volume Poemas Reunidos, lançado pela José Olympio.
Na área do ensaio, um de seus trabalhos de maior destaque é Drummond: A
Estilística da Repetição, publicado em 1970. Esse ensaio correspondeu à tese
de doutoramento do autor na PUC-RS.
Embora Mendonça Teles seja um autor prolífico, se você fizer uma busca nas
livrarias, vai encontrar poucas obras dele. Há, com certeza, um volume da
coleção Os Melhores Poemas, da Global Editora, que saiu em 1993. Os
textos ao lado foram extraídos do livro Plural de Nuvens, de 1990.
Em "Teatro de Arena", o autor, bem-humorado, brinca com expressões em que entram
a palavra "papel" e seus múltiplos significados. Em "Ludus", como o próprio
título anuncia, mais uma vez o poeta joga com as palavras — "jogo de truque e
blefe de poema". Em "Aqui e Agora" a brincadeira continua. É ela, na verdade,
que dá o tom de todo o Plural de Nuvens.
Um abraço,
Carlos Machado
•o•
poesia.net em números
Em junho — já contei isso a vocês — o site
Alguma Poesia, que
abriga este boletim, registrou 1023 visitas diárias, para um total de 30,7 mil
visitas no mês. Em julho, mês de férias, esses números caíram para 803 visitas
diárias (24,9 mil em todo o período).
Agora em agosto, os números voltaram a crescer: a média foi de 1100 visitantes
por dia (total: 34,1 mil visitas). Agosto também marca um recorde: no dia 29,
1745 internautas passaram pelo site.
NAS CIDADES
Quanto às cidades que mais visitam o site, não há novidade. Em ordem
decrescente: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília,
Curitiba, Recife, Porto Alegre, Florianópolis e Goiânia. Até aí são dez. Agora,
tem um doce quem adivinhar a décima primeira. Pensou? Aposto que não acertou.
Fica do outro lado do Atlântico — Lisboa! Portugal é também o país número 2 em
visitas, seguido de Estados Unidos, Espanha, Japão e Argentina. |
Plural de nuvens
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Gilberto Mendonça Teles |
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TEATRO DE ARENA
Estou desempenhando o meu
papel-
carbono: aqui está o seu nome como uma tatuagem no meu peito.
Aqui, o acetinado para as suas mãos
e o aéreo para uma viagem clandestina.
Já fui como um papel
almaço
muito bem pautado e com margens para as emendas e correções.
Amanhã serei algum papel de embrulho se não for um desses papéis de
oficio
com timbre e protocolo para comunicar oficialmente a seu marido
que entrei em gozo de férias ou de licença-prêmio com você.
Hoje eu sei me transformar
nos papéis mais difíceis: ser bufão como um papel bouffant,
faminto como um papel de arroz,
discreto como um papel de alcova,
fino como um papel de linha,
sensual como um papel de rolo para as nossas abluções. Mas
também um autêntico linha-d’água
só para ver você na contraluz.
Já representei papéis
estrangeiros:
China, Índia, Holanda, Japão. Você pode fazer de mim o seu correio,
o seu papel-moeda ou papelão.
Quando você me receber, não me
olhe de soslaio,
apesar de ser muito bonita esta palavra. Me olhe de banda, que é a
coisa mais linda,
e me guarde no bolso da calça, bem em cima daquele sinal na coxa
esquerda.
Depois, antes que alguma coisa aconteça, me tire da cabeça.
Um dia,
quando a roupa voltar da tinturaria e este poema perder seu
significado,
você me encontrará todo enrugado:
— Que papel será este? E por
capricho
me deitará no lixo.
LUDUS
Tolle, lege.
Santo Agostinho
Toma a palavra, e principia.
Tudo
tem um pouco de ti: um sol, um sema. No fundo, teu desejo:
lodo e ludo, jogo de truque e blefe de poema.
Toma este livro,
toma e lê (ou
lege); não só um tomo, a obra inteira soma à solidão maior que
te protege
como um corpo de baile no idioma.
E toma ao pé da letra o que
combina
com teu gosto e prazer:
o cimo, a suma de todos os sabores,
vitamina, quintessência final de coisa alguma.
AQUI E AGORA
Procuro o aqui e o
agora,
o agoraqui, o que já foi e continua: a cor de outrora no couro
curtido de um boi.
Procuro o que está sendo, o que se acende, o que se apaga, o
acontecido acontecendo,
sombra de peixe fora d'água.
Procuro o que figura no que perdi
te procurando, o que se gastou na usura do que me vem de vez em
quando.
Procuro o que projeto além de mim, no que me sobra: talvez a
sombra de um inseto
na plantação da minha obra.
Procuro o procurar-te, o que
sempre fiz e não sei.
Talvez o aqui e o agora, a parte do que ficou fora da lei.
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