Amigas e amigos,
Neste boletim n. 398, o poeta em destaque é o curitibano Marcelo Sandmann (1963-). Poeta, autor de canções e professor de literatura na UFPR, Sandmann publicou os livros de poesia Lírico Renitente (7Letras, 2000; 2a. ed. 2012), Criptógrafo Amador (Medusa, 2006), Na Franja dos Dias (7Letras, 2012), Sangue na Guelra (7Letras, 2016) e Antologia Poética 1987-2017 (Kotter e Ateliê Editorial, 2017).
Embora eu já conhecesse Marcelo Sandmann de nome e por alguns poemas esparsos na internet (cheguei a publicar dois de seus textos em cartões no Facebook), a Antologia Poética é o primeiro livro dele com que travei contato. Aliás, conheci pessoalmente o poeta exatamente num dos lançamentos dessa coletânea, neste ano.
Portanto, todos os poemas da seleção ao lado foram extraídos da Antologia, que oferece um apanhado da produção poética do autor em três décadas.
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Uma característica que salta aos olhos na poesia de Marcelo Sandmann é o humor, caracterizado por altas doses de ironia voltadas para as relações pessoais e mesmo apontadas para o próprio autor. Humor com reconhecíveis toques drummondianos.
Esse traço da poesia de Sandmann aparece logo em “7ª Edição, Revista e Encurtada”, o primeiro poema ao lado. Nele, a pessoa que fala, um homem do tipo machão clássico, lamenta uma desilusão amorosa e percebe que não é lá tão poderoso (“o superbambambã”) que julgava ser.
O segundo poema, “Mora na Filosofia?”, baseia-se no conhecido samba do cantor e compositor carioca Monsueto Menezes (1924-1973). Mas o poema
trafega em sentido contrário ao da música. Enquanto o sambista pergunta, com desdém, “Pra que rimar amor e dor?”, o poeta declara a conveniência e a validade dessa rima: “Convém rimar /amor e dor, / pois dor e amor / dão belo par”. O resultado é um sonetilho vazado em versos de quatro sílabas nos quais o autor reconhece a cadência de Vinicius de Moraes.
Vem a seguir o texto “Marinhas (1)”. Trata-se de um exercício de pintura executado com a paleta da poesia. Em poucas frases, essa tela de palavras sugere cores, sons e movimentos de uma paisagem marinha. No trecho “A espádua áspera da pedra”, o leitor atento “vê” e “ouve” a onda chicoteando a pedra. No alto, o sol, com seu pálio de luz cor de mel. Os sons de “flautas aflitas” fazem supor a presença das aves, ainda não declaradas. Chegam, por fim, as gaivotas, que devoram a tarde e provocam mais outra sugestão sinestésica. A “mastigação” das aves ensanguenta as nuvens (do poente), deixando-as em carne viva. Brilhante. Coisa de “lírico renitente”.
O mesmo clima lírico se encontra em “Prestigitações”. Aqui, o poeta lança mão do ilusionismo dos mágicos para fazer saltar de entre os próprios dedos, antes vazios, um pássaro em chamas. Pode-se ler este texto como mais um metapoema. Afinal, a criação poética não é outra coisa senão esse toque de mágica.
Onde antes não havia nada aparece um objeto flamejante, feito de ideias e palavras.
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O próximo poema é “Aurea mediocritas”, ou áurea mediania, expressão usada pelo poeta romano Horácio (65 a.C.-8 a.C.). No texto, o
autor procura “um ponto médio” para garantir que o resultado da escrita seja, ao mesmo tempo, prazeroso para o autor e para o leitor.
Em meu ponto de vista pessoal, esse equilíbrio áureo proposto pelo poema é de fato algo importante a ser buscado por quem escreve. Talvez os vanguardistas radicais (ainda os há?) não gostem disso.
Vale frisar que, em latim, a palavra mediocritas (literalmente: “mediocridade”) não tem o valor pejorativo que adquiriu em português e em outras línguas neolatinas. É apenas a condição mediana. Em certo sentido, a áurea mediania de Horácio também está em outra frase que aconselha fugir dos extremos: “A virtude está no meio” (In medio virtus).
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No poema “Poesia Versus Prosa”, o autor, sempre com humor, apresenta uma concepção do que seria um bom poema, tomando a prosa como eixo de não-referência. O paralelo entre poema e tiro de misericórdia é bastante violento, mas liquida o assunto: “É pá-buf!”
O último texto da miniantologia, “Menos que Menos”, retorna ao tema da extensão do texto. Aí o poeta propõe-se a dizer “o mínimo, o ínfimo”. Se o texto for desse modo e ainda permitir o prazer de quem o lê, como proposto em “Aurea mediocritas”, assim seja.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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