Amigas e amigos,
Começo com uma notícia boa: o boletim continuará a ser distribuído por e-mail. Em dado momento, confesso, acreditei que não haveria saída.
Felizmente, após uma série de peripécias — das quais, ainda bem, vou poupá-l(as, os) —, apareceu uma solução. Então, foi um período preocupante, mas passou.
•o•
Nesta edição o poesia.net destaca a jovem poeta Mariana Godoy (Pacaembu-SP, 1996). Além de seu livro de estreia,
O Afogamento de Virginia Woolf (Patuá, 2019), Mariana lançou Holograma (Círculo de Poemas, 2023).
Formada em artes cênicas, a autora, assim como outros poetas de sua geração, parece conceber a poesia a partir das artes visuais.
Numa entrevista ao jornal online
PublishNews,
ela afirma: “Eu penso a escrita dentro de uma sala de edição muito bem equipada, onde consigo cortar, inserir, desfazer a sequência de imagens”.
Desse modo, seus poemas
quase sempre vêm marcados pela visualidade e pela construção de personagens, cenários e falas plantados no cotidiano.
Outros traços que se destacam nos textos da autora são, de um lado, a ausência dos recursos tradicionais da poesia — tais como metáforas, paralelismos e assonâncias —
e, de outro lado, o predomínio do coloquialismo.
•o•
Para esta edição, organizei uma pequena seleta de poemas, extraída dos dois livros de Mariana Godoy, Holograma e O Afogamento de Virginia Woolf.
O primeiro poema ao lado, “Eco”, informa, de maneira bastante doída, sobre a morte do pai da pessoa que fala. A autora revela que o livro Holograma
foi escrito para “elaborar um processo de luto”, que certamente se refere a uma perda pessoal. Para ela, o holograma é a representação virtual do ente querido que se foi.
Em “Malévola”, o tom é mais crítico. Refere-se às pequenas rusgas entre crianças e adultos dentro de casa. A “malvada” do título é uma avó italiana,
personagem comum em famílias paulistas. O poema “Contra a Interpretação” também é focado no ambiente doméstico. Nele a autora discute a origem do
nome de sua cidade natal e deixa a cargo de um avô (pessoal ou inventado) a conclusão bem-humorada do texto.
Ainda no âmbito familiar, a figura da mãe é quem se destaca no poema “A Guardadora de Rebanhos”, um título que remete a Fernando Pessoa. Mas os
rebanhos, aqui, são formados pela coberta que mãe e filha, juntas, se encarregam de dobrar, no quarto, em interessante coreografia doméstica:
“ela em uma ponta da cama/ eu na outra ponta segurando a mesma coberta/ as duas virando o corpo pelo quarto/ como numa dança”.
Até aqui, todos os poemas citados estão na coletânea Holograma. Os dois próximos pertencem ao livro de estreia da autora, O Afogamento
de Virginia Woolf. O primeiro é “[Vovô pensa que o papai vai]”. Atenção: quem já conhece o poesia.net sabe que, nesta página, sempre que o
poema não tem título, refiro-me a ele usando o primeiro verso entre colchetes.
O vovô, já senil, “pensa que o papai vai/ trazer frango assado pro jantar”. Só que “papai morreu há anos”. Neste caso, um parente morto aparece
como um holograma no cotidiano doméstico, desta vez trazido pela decrepitude do avô.
Vem, por fim, o texto “[Deveríamos Ter a Mesma Idade]”. Mãe e filha se deslocam num ônibus urbano. A mãe desce do veículo, a filha fica,
e o motorista dá a partida. Na técnica de narração, a poeta Mariana mostra sua vinculação à arte dramática. A mãe se desespera, grita, pede que
o motorista pare. Mas, no fim, a mãe não é mais a mãe. É a filha, que até hoje corre atrás do ônibus.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
•o•
Visite o poesia.net no Facebook e no Instagram.
•o•
Compartilhe o poesia.net
no Facebook, no Twitter
e no WhatsApp
Compartilhe o boletim nas redes Facebook, Twitter e WhatsApp. Basta clicar nos botões logo acima da foto do poeta.