Amigas e amigos,
Nascido em Fortaleza em 1980, Diego Vinhas já publicou três livros de poesia: Primeiro as Coisas Morrem (2004),
Nenhum Nome Onde Morar (2014) e Corvos Contra a Noite (2020), todos pela editora 7Letras. Graduado em direito
pela Universidade Federal do Ceará, Vinhas trabalha como defensor público.
Adquiri, recentemente, os dois livros mais recentes do autor. Na leitura, percebe-se que a poesia de Diego Vinhas reflete a
crueza dos tempos atuais. Observador atento, o poeta inspira-se muitas vezes no noticiário dos jornais e nas peripécias do dia a dia.
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Para a microantologia da presente edição, selecionei quatro poemas de Diego Vinhas. Os três primeiros vêm do livro
Corvos Contra a Noite e o último, de Nenhum Nome Onde Morar.
Comecemos a leitura com o poema “Sesmarias”, um texto fundamentado em informações estatísticas, mundiais e brasileiras.
Exemplo: “seis brasileiros concentram a mesma renda que 50% dos mais pobres”. Outro: “dez multinacionais têm mais capital
que 180 países”. Como se vê, não temos aí nenhum verso aspirante à glória da metáfora mais sublime ou do lirismo capaz de
enlevar os corações. Nada disso: é a realidade, nua e crua, batendo à porta.
A sequência de números hediondos também passa pelas diferenças entre países ricos e pobres, entre os salários de homens
e mulheres, e desce aos preconceitos de nosso cotidiano ainda envenenado pelos quatro séculos de escravidão oficial:
“O motorista do Dr. Mansur / é filho do motorista do pai do Dr. Mansur”.
E, por fim, vem aquela pergunta arrogante e anticidadã, que resume tudo: “você sabe com quem está falando?”. Uma pergunta
que ainda ecoa a voz senhorial dos donos das antigas sesmarias, aquelas terras cedidas pelo rei de Portugal aos novos povoadores.
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O poema a seguir, “Coletiva”, mimetiza um comunicado formal de empresa (ou mesmo de autoridade pública) a respeito de algum
ato violento cometido em área de sua responsabilidade. As fórmulas estão presentes em cada frase. Todo brasileiro já leu ou
ouviu alguma delas. “lamentamos profundamente / o ocorrido. uma sindicância foi / aberta”.
Antes de ter à mão os livros de Diego Vinhas, conheci na internet o poema “Lei do Abate”, com o qual cheguei a fazer um
“cartão poético” — cartazete ilustrado para o Facebook e o Instagram. O poema resume com precisão o pensamento agressivo
e criminoso da extrema direita: fascista, machista, racista, armamentista, homofóbico: “tem que mirar na cara. / tem que matar”.
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Passemos ao último poema da seleção, o único extraído do livro Nenhum Nome Onde Morar. Composto apenas de perguntas
feitas a uma mulher, é um texto diferente dos três anteriores. Aqui, o autor assume uma paleta mais lírica. “você reza? você
já dançou sozinha / como se o mundo / se resumisse a paredes e velocidade, com /
alguma rouca alegria?”.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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