Amigas e amigos,
Nesta edição, o poesia.net apresenta a poeta paraense Maíra Dal’Maz, que lançou recentemente o livro
Vira uma pedra o tempo (Patuá, 2024). A autora também já publicou as coletâneas Ex-voto (Urutau, 2022) e
Agouro (Escaleras, 2021). Nascida em Monte Dourado (distrito de Almeirim, norte do Pará), Maíra vive em Natal,
Rio Grande do Norte. É doutoranda em Literatura Comparada e mestra em Educação pela UFRN.
Tenho aqui em mãos o livro mais recente da autora, Vira uma pedra o tempo. Antes mesmo de abri-lo, presto atenção
para a ambiguidade do título. O tempo se transforma numa pedra ou apenas a faz mover-se ou girar? Mas passemos à leitura.
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Os poemas são divididos em dois blocos, intimamente associados ao título: “Tempo” e “Pedra”. Não à toa, no texto de
abertura do primeiro bloco, chamado “Entrada”, a poeta traz à baila a dúvida que expus acima: “peço que me ajude a
escolher a ordem / 1. vira o tempo uma pedra / 2. vira uma pedra o tempo”. Mais adiante, ela conclui: “dá na mesma /
vira o tempo uma pedra / vira uma pedra o tempo” e ainda acrescenta: “ou onde soluça o silêncio”, que foi
a primeira ideia para nomear o livro. Portanto, pelo menos até aqui, minha dúvida inicial permanece.
Mas prossigamos. Vamos para os poemas selecionados, transcritos ao lado. Leiamos “Escrever é Brincar com Ruínas”. Aqui,
o eu poético revisita o passado familiar. “minha mãe foi / mãe de suas irmãs / vendedora de flores de pano / caixa de banco /
camareira e garçonete”. Tudo muito trivial, cotidiano.
A retomada da história familiar continua no poema “Heranças”. Agora, a personagem em observação é a avó. E a neta revela
aquelas coisas inexplicáveis das lembranças pessoais: as memórias guardadas no mais fundo de nossa capacidade sensorial.
No caso, os cheiros da casa da avó, os perfumes da própria avó. E isso, apesar de a neta confessar que só via a parenta
mais velha “a cada dois anos e não sabia bem o que falar / diante dela”.
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Os poemas seguintes já pertencem ao capítulo “Pedra”, embora o contexto ainda seja familiar. No poema “Preguiçosa”,
retorna a mãe, em tempos atuais. Contudo, a referência continua sendo o passado, quando a mãe costumava dizer: “ela ainda
não lava as panelas / a minha pequenininha preguiçosa”.
Em “Barragem”, o lugar é outro. Não se sabe bem quem é o sujeito poético, nem também o “você” no texto. Sabe-se
apenas que o momento é sério. O narrador arrepende-se da palavra que não disse. “uma só palavra: aquela / que eu
não disse, aquela que insiste / em conter a morte”.
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No poema “Lithium”, a narradora se imagina deitada “no meio do canavial / vendo as estrelas”, para “chorar do lítio /
todo o sal”. Aparentemente, o poema sugere que a ato de contemplar as estrelas entre as flores da cana-de-açúcar
facilitaria limpar do corpo o sal de lítio, medicamento usado para combater a depressão.
Vem, por fim, o poema “Solstício de verão”. Aqui, a pessoa que fala imagina que hoje é “o dia mais longo do ano /
e que nele estou ajoelhada”. A partir daí, a poeta introduz no contexto um inseto, uma “vespa-do-figo /
que vivem somente um dia”. E essa flutuação de pensamentos evolui para uma pergunta: “qual é / exatamente /
a minha função no organismo de Gaia”? Mais uma bela indagação sem resposta.
E o tempo? Transforma-se em uma pedra ou faz uma pedra se mover? A poeta tem razão: “dá na mesma”.
Um abraço, e até a próxima,
Carlos Machado
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SEMANA DONIZETE GALVÃO
Uma notícia que merece toda a atenção de quem gosta de poesia. Os leitores dste boletim conhecem bem
a obra do poeta mineiro Donizete Galvão (1955-2014).
A prefeita Tatiana Pires Pereira Cobra, de Borda da Mata, terra natal do poeta Galvão, sancionou
no dia 15 de maio uma lei que cria o Dia Municipal do Livro e a Semana Municipal de Leitura
"Donizete Galvão". O Dia Municipal é 24 de agosto, aniversário do poeta, e a Semana ocorrerá
anualmente em torno dessa data. A Semana incluirá a realização de uma feira do livro, concursos
literários, palestras e debates com escritores.
Parabéns a Borda da Mata pela iniciativa. Viva o poeta Donizete Galvão! E viva a Poesia!
Donizete Galvão foi destacado várias vezes aqui no poesia.net:
• n. 516;
• n. 425;
• n. 400;
• n. 302;
• n. 236;
• n. 19.
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