DRUMMOND E O TRABALHO POÉTICO
"Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero
honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de
dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se
entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da
contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é,
mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos.
Infelizmente, exige-se pouco do nosso poeta; menos do que se reclama ao pintor,
ao músico, ao romancista..."
Carlos Drummond de Andrade
em “Autobiografia para uma revista”,
no livro Confissões de Minas (1944).
In Prosa Seleta, Nova Aguilar, 2003.
ARMANDO FREITAS FILHO FALA SOBRE OS TOQUES DE DRUMMOND
Uma vez ele falou para Lelia Coelho Frota: "Você tem que ver os poemas que abrem
o seu livro, os que jogam no meio e os que fecham". Fui até ele e perguntei como
se fazia isso. Ele disse: "É você que tem que saber como se faz isso". Essa é
uma coisa que procuro fazer sempre e me pergunto se estou fazendo certo. Ele
dava uns toques assim; nunca era peremptório. Minha conversa com ele era mais
sobre a vida, sobre o que eu devia fazer. Eu contava o que eu estava lendo e ele
nunca me disse "você deve ler isso". Era muito delicado e carinhoso.
O poeta
Armando Freitas Filho, em depoimento ao caderno Sabático, de O
Estado de S. Paulo, 10/03/2012