Número 26

Sexta-feira, 1 de novembro de 2002 

"Por que chora o homem?/ Que choro compensa/ o mal de ser homem?" (C.D.A.)

  Drummond de bolso

Carlos Drummond de Andrade
100 anos: 1902-2002

 


Mestre do verso livre e largo, típico de alguns de seus poemas mais conhecidos (como "A Flor e a Náusea", "Nosso Tempo" e "Canto ao Homem do Povo Charlie Chaplin", todos de A Rosa do Povo, 1945), Drummond também cultivou o verso minimalista.

Ao lado, cinco exemplos de poemas sintéticos. Em meia dúzia de palavras ele consegue passar uma idéia grande, com direito a perplexidade, reflexão e ironia.

Curiosidade a respeito do minipoema "Bahia": mais de 50 anos depois, Drummond publicou um complemento a esse texto. É "O Poema da Bahia Que Não Foi Escrito", no qual ele lamenta não ter conhecido a terra de Caymmi. Esse poema está em Amar Se Aprende Amando, de 1985.

 

CERÂMICA

Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.

Sem uso,
ela nos espia do aparador.

In José & Outros
José Olympio, 1967


BAHIA

É preciso fazer um poema sobre a Bahia...

Mas eu nunca fui lá.

In Alguma Poesia
Edições Pindorama, 1930
 

COTA ZERO

Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?

In Alguma Poesia
Edições Pindorama, 1930
 

[CEMITÉRIO] DE BOLSO

Do lado esquerdo carrego meus mortos.
Por isso caminho um pouco de banda.

In Fazendeiro do Ar
José Olympio, 1954


ENIGMA
                    16/06/1973

Faço e ninguém me responde
esta perguntinha à-toa:
Como pode o peixe vivo
morrer dentro da Lagoa?

In Amar Se Aprende Amando
Record, 1985


Drummond: 100 anos
Carlos Machado, 2002

© Graña Drummond