Guilherme de Almeida
Caros,
O haikai, vocês sabem, é aquela pequena composição poética
japonesa formada por três versos, de cinco, sete e cinco sílabas métricas, nesta
ordem.
Em geral, os haikais são textos comtemplativos e refletem momentos de observação
da natureza: a folha que cai, o nascer do sol, a passagem do tempo.
Tradicionalmente, é uma forma poética que não contém rimas. No entanto, o poeta paulista
Guilherme de Almeida (1890-1969) decidiu reinventá-la,
recriando-a num formato bem pessoal. Em seus haikais abrasileirados, o primeiro
verso rima com o terceiro e o segundo inclui uma rima interna, na segunda e na
sétima sílabas.
Com seus haikais, Guilherme de Almeida criou admiráveis pílulas de poesia, que o classificam como um mestre do gênero. Ao lado, algumas
delas.
Um abraço,
Carlos Machado
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O mestre do haikai
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Guilherme de Almeida |
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CIGARRA
Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.
CHUVA DE PRIMAVERA
Vê como se atraem
nos fios os pingos frios!
E juntam-se. E caem.
OUTUBRO
Cessou o aguaceiro.
Há bolhas novas nas folhas
do velho salgueiro.
O HAIKAI
Lava, escorre, agita
A areia. E, enfim, na bateia
Fica uma pepita.
NOTURNO
Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.
HORA DE TER SAUDADE
Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)
OS ANDAIMES
Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.
QUIRIRI
Calor. Nos tapetes
tranqüilos da noite, os grilos
fincam alfinetes.
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