Número 3

26/06/2006

"Dentro de mim mora um grito./ De noite, ele sai com suas garras, à caça/ De algo para amar." (Sylvia Plath)
 

Patrícia Claudine Hoffmann
  Picasso, O escultor (1931)

Caros,

Nesta página, como num blog, pretendo registrar notícias e observações variadas.

Carlos Machado


 

 



 

O que há com a poesia?

 


POESIA BRASILEIRA HOJE

A quantas anda a poesia brasileira? Qualquer pessoa minimamente antenada é capaz de perceber que existe hoje uma movimentação inédita nessa área. Aparentemente, os poetas estão mais ativos, organizam-se saraus e leituras de poesia, surgem novas revistas e jornais literários. Trata-se, portanto, de um cenário que sugere comemorações.

No entanto, os especialistas que analisam o fenômeno mais de perto — ou, melhor, de dentro — divergem quanto ao entendimento do que de fato está acontecendo. Também curioso com isso, fiz uma pesquisa na internet e reuni abaixo links para alguns ensaios, artigos e entrevistas sobre o assunto.

Nem sempre o poeta ou ensaísta fala especificamente sobre a situação atual da poesia brasileira. Às vezes, fala de seu próprio trabalho e, no meio, inclui uma apreciação de cunho mais geral. Confira as opiniões:

Fabrício Carpinejar, poeta, ensaísta
Jorge Lúcio de Campos, poeta, ensaísta

(Incluído em 30/01/2005)


Debate em As Escolhas Afectivas

O blog As Escolhas Afectivas, organizado pelo poeta argentino Anibal Cristobo, propôs um debate com a seguinte pergunta: "O que você acha da situação da poesia no Brasil?"

Vários poetas aceitaram o desafio e expuseram em vários posts sua visão do problema. Vale a pena acompanhar. O endereço é:
Debate em As Escolhas Afectivas.

(Incluído em 09/06/2007)


A opinião de Alfredo Bosi

Acrescento, e destaco, a opinião do professor Alfredo Bosi, da USP, nome que dispensa apresentações. Em entrevista concedida a Rodolfo Vianna e publicada no n. 7 (dezembro, 2003) de Informe, boletim da FFLCH-USP, ele fala sobre a produção literária atual. Eis o trecho da entrevista:

Pergunta — Há boa literatura na produção jovem? Como o senhor prevê uma futura geração literária, seu eixo ou temática?

Alfredo Bosi — A chamada "produção jovem" é abundantíssima. Quantidade não lhe falta. Entretanto, salvo melhor juízo e raríssimas exceções, ela padece de senilidade precoce. Sofisticação requentada, morbidez degenerativa, violência autocomplacente mascarada de populismo de esquerda, sexualidade pervertida, maneirismos compulsivos, obsessão mercadológica: sinais dos tempos. É preciso detectar a juventude nos escritores que têm algo a dizer a seus contemporâneos, o que nada tem a ver com a idade cronológica.

(Incluído em 04/03/2005)
 

"Nouveau riche", diz Ricardo Aleixo

Uma frase do poeta belo-horizontino Ricardo Aleixo sobre a poesia que se faz hoje no Brasil:

“O que predomina na poesia brasileira contemporânea é, ao contrário, na maioria dos casos pura ostentação, típica desta mentalidade noveau riche, que se contenta em macaquear modas literárias”.

A frase é parte de uma entrevista publicada no livro Dez Conversas: Diálogos com Poetas Contemporâneos (Gutenberg Editora, 2004), de autoria do jornalista, professor e poeta mineiro Fabrício Marques.

(Incluído em 27/03/2005)


"O ecletismo não me entusiasma", aponta Augusto de Campos

Trecho de uma entrevista do poeta Augusto de Campos concedida a José Carlos Prioste e publicada em recente edição da revista Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional:

“O verso, tal como praticado antes do “Lance de dados” e das vanguardas do começo do século, reprocessadas e sintetizadas pela poesia concreta no início da segunda metade do século, é uma mina exaurida. Pode haver, aqui e ali, algum último filão a raspar do fundo da mina, mas é raro. (...)

Há sempre gente interessante fazendo poesia interessante, à margem da maioria de gente desinteressante que faz poesia desinteressante. Não acredito — é óbvio — que toda a poesia deva virar concreta ou experimental para ser válida. Nem tenho receitas para o que virá. Mas o ecletismo predominante nas novas gerações não me entusiasma. Parece-me uma solução fácil demais, e a poesia é uma arte difícil.

Para mim, o ciclo da vanguarda não se encerrou, nem se encerrará, se se entender por vanguarda uma disposição permanente para experimentar com as novas linguagens, ou se se entender a arte — como queria John Cage, que jamais renunciou à vanguarda — como uma forma de agir não apenas em função da expressão mas da mudança de mentes (not to express but to change oneself)”.


(Incluído em 01/04/2005)


• "Fabricantes de livros", diz o romancista Autran Dourado

Quando o autor está começando a escrever, não pode pensar em ninguém. Nem em outros autores nem em seu público, porque sequer consegue saber quem é seu público. O escritor é aquele solitário. Eu não sei qual é meu leitor e não me submeto à posição de procurá-lo.
É por isso que vejo com certo escândalo o que está acontecendo no Brasil: pessoas jovens que se iniciam na literatura e querem logo vender livro. Têm vocação de best-seller. São fabricantes de livro, e o livro que você vê não resultou de nenhum esforço maior, não correu nenhum sangue por ele. Isso não é ser escritor. Vender livro é um acidente na vida de um escritor.

Autran Dourado
In Folha de S. Paulo, entrevista a Julián Fuks
30/07/2005

(Incluído em 30/07/2005)



• Para Ivo Barroso, falta à poesia
atual o poder de emocionar


Cada vez a poesia "atinge" menos leitores, seja porque recorre a uma linguagem que em última instância a elitiza ou a marginaliza, seja pela sua atual incapacidade de atingir aquilo que parece o fim precípuo dessa arte: o poder de emocionar, de tocar uma corda sensível do leitor e tirá-lo, ainda que por brevíssimos instantes, do fulcro habitual em que vive e pensa. A maior parte da produção poética de nosso tempo nada tem a ver com a poesia propriamente dita: é prosa ruim ou letra de música ou abjeções destinadas ao vaso sanitário. Além disso há uma persistência inexplicável por métodos que de há muito se revelaram inócuos. Tenho engulhos quando leio poemas com trocadilhos ou jogos de palavra aleatórios tipo pá/lavra e quejandos. Há gente que ainda hoje usa recursos concretistas pensando que está fazendo poesia "avançada"...
 

Ivo Barroso
In entrevista a Rodrigo de Souza Leão
Publicada na web, sem data.



• Carlos Felipe Moisés: Bandeira, Drummond, Cabral, Murilo ainda são o que há de mais atual

Respondo à indagação colocada de início: o que há de mais atual e inovador na poesia brasileira, hoje?

De um lado, uma ebulição extraordinária, auspiciosa; o país nunca teve tantos poetas em atividade; nunca houve entre nós tanto interesse por poesia; a cena poética brasileira jamais conheceu tal diversidade, tal heterogeneidade, tal mistura de timbres, formas e estilos. Vivemos um período áureo em matéria de poesia e não me preocupa nem um pouco saber que quantidade e variedade nem sempre correspondem a qualidade.

De outro lado, indo direto à pergunta, o que vejo de mais atual, inovador e pujante na atual poesia brasileira é o Bandeira de Estrela da manhã, o Murilo de A poesia em pânico, o Drummond de Claro enigma ou o João Cabral de Uma faca só lâmina. São esses poetas que, antes dos demais, ajudam a enfrentar "o tempo presente, os homens presentes, a vida presente", hoje.


Carlos Felipe Moisés
Poeta, crítico literário, contista e tradutor. Autor de Noite nula, (poesia, 2008), Histórias mutiladas (contos, 2010) e Tradição & ruptura (ensaios, 2012). 
In Suplemento Literário de Minas Gerais, maio/junho 2013

(Incluído em 02/09/2013)

poesia.net
Outras Palavras
Carlos Machado

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