Da Costa e Silva
Caros,
Um poema antológico do poeta simbolista Da Costa e Silva (1885-1950).
Nascido em Amarante, PI, Antônio Francisco da Costa e Silva formou-se advogado
pela Escola de Direito do Recife. Foi funcionário do Ministério da Fazenda e
trabalhou em vários estados, como Maranhão, Amazonas, São Paulo e Rio Grande do
Sul.
Na poesia, estreou com o livro Sangue (1908), ao qual se seguiram os
volumes Zodíaco (1917), Verhaeren (1917), Pandora (1919) e
Verônica (1927). Suas Poesias Completas já tiveram quatro edições:
em 1950, 1975, 1985 e 2000.
Da Costa e Silva é pai do também poeta, diplomata e especialista em estudos
africanos Alberto da Costa
e Silva.
Carlos Machado
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Uma canção,
várias tristezas
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Da Costa e Silva |
SOMBRA E NÉVOA
Cai o crepúsculo. Chove.
Sobe a névoa... A sombra desce...
Como a tarde me entristece!
Como a chuva me comove!
Cai a tarde, muda e calma...
Cai a chuva, fina e fria...
Anda no ar a nostalgia,
Que é névoa e sombra em minh’alma.
Há não sei que afinidade
Entre mim e a natureza:
Cai a tarde... Que tristeza!
Cai a chuva... Que saudade!
ESTA CANÇÃO TRISTONHA é uma pequena joia do simbolismo brasileiro.
Singela e musical, ressoa em nossos ouvidos com a mesma graça de alguns dos
versos de Verlaine, um dos mestres maiores do simbolismo francês.
O poema “Sombra e Névoa” foi escrito pelo poeta piauiense Antonio Francisco da
Costa e Silva (1885-1950), ou Da Costa e Silva, como ele se assinava,
bem ao gosto da época (veja ao lado alguns dados biográficos do poeta).
•o•
DA COSTA E SILVA nos traz à lembrança um episódio do famoso Barão do Rio
Branco. Monarquista empedernido, José Maria da Silva Paranhos Júnior (este era
seu nome —
o pai, também “nobre”, era o Visconde do Rio Branco), foi o titular do Ministério
das Relações Exteriores no Brasil do final de 1902 até sua morte, em 1912.
Paranhos Júnior era o donatário dessa capitania ministerial. Vejam só o que ele
fez com Da Costa e Silva, segundo relato de Guilherme Luiz Leite Ribeiro, no
livro Os Bastidores da Diplomacia (Nova Fronteira, 2007, p. 50):
Nos tempos do barão do Rio Branco não havia concurso para ingressar na
carreira diplomática, e a seleção era feita pessoalmente por ele, que conversava
com os candidatos, em geral pessoas de família conhecida, de preferência bonitos
e que falassem línguas estrangeiras. Antônio Francisco da Costa e Silva, ilustre
poeta e pai do embaixador e acadêmico Alberto Vasconcellos da Costa e Silva,
conversou com o barão sobre a possibilidade de ingresso na carreira, porém o
chanceler foi taxativo: — Olha, o senhor é um homem inteligente, admiro-o como
poeta, contudo não vou nomeá-lo porque o senhor é muito feio e não quero gente
feia no Itamaraty...
Se o candidato a diplomata tinha de ser “bonito e de família conhecida”, o
critério do barão era diferenciá-lo de quem? De negros e índios, obviamente! Da Costa e Silva não era negro nem
índio, mas tinha cara de nordestino...
Outro absurdo: o barão, ministro da república, continuou a assinar-se “Rio
Branco”, em flagrante desrespeito à Constituição.
•o•
OUTRO FATO que envolve o nome de Rio Branco.
Havia nessa época um político pernambucano chamado (Manoel da Motta) Monteiro
Lopes, conhecido como o primeiro negro a ser eleito deputado federal no Brasil,
em 1909. Nascido em Recife, Monteiro Lopes formou-se em direito, exerceu a
profissão em sua cidade natal e em 1894 mudou-se para a capital do país.
Popular, era conhecido como “advogado de
irmandades”, “defensor dos operários” e “líder dos pretos”.
Em 1909, Monteiro Lopes foi eleito deputado federal e só tomou posse porque
houve enorme mobilização de entidades populares em seu favor. Vejam o que conta
a historiadora Carolina Vianna Dantas:
Contudo, no mês de fevereiro, a grande imprensa começou a noticiar a
existência de rumores de que Monteiro Lopes não seria reconhecido como deputado
federal. Os boatos diziam que Afonso Pena [o então presidente da república]
e o Barão do Rio Branco não queriam um negro na Câmara dos Deputados, pois isso
envergonharia o país.
poesia.net
Outras Palavras
Carlos Machado,
2014
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• Outras Palavras
Guilherme Luiz Ribeiro Leite:
Os Bastidores da Diplomacia
Nova Fronteira, Rio de
Janeiro, 2007, p. 50
Carolina Vianna Dantas:
Monteiro Lopes (1867-1910), um "líder da raça negra"
na capital da república,
artigo na revista Afro-Ásia
2010 (41), da UFBA _______________ * Francisco Carvalho "Coisas
da Terra", in Corvos de Alumínio (2007)
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